Terminologia e Nomenclatura 

É antigo e generalizado em todo o arquipélago o emprego de termos particulares aplicados a assinalar as condições e meios de acção em uso no privativo sistema da irrigação madeirense - as levadas. Embora sejam muito conhecidos e quotidianamente utilizados pelas populações rurais, não o são todavia para um número considerável de habitantes citadinos e de modo particular para as pessoas que apenas breve e passageiramente visitam a Madeira.

A estas, em especial, se destina a pequena «terminologia» ou «nomenclatura» que aqui deixamos esboçada acerca dos nossos aquedutos ou canais de irrigação.

Levadas - São estreitos canais abertos no solo e geralmente construídos com pedras pequenas, que não chegam a ter um metro de largura e cuja profundidade poucas vezes vai além de cinquenta a setenta centímetros. Partem quase todas de pontos centrais da ilha, encabeçando a maior parte delas nas torrentes que correm nos leitos das ribeiras, havendo algumas que medem dezenas de quilómetros de comprimento.

Madre da Levada - Dá-se esta designação aos locais da sua origem ou pontos de confluência com outros aquedutos e também às paredes de alvenaria ou de barro que formam as mesmas levadas. Na Madeira, designava-se, em outro tempo, por «madre de água» o ponto em que brotavam as nascentes ou «tornos» de água.

Caixa da Levada - É o próprio aqueduto, abstraído do caudal que nele corre.

Caudal ou volume de água - É bastante variável o fluxo do caudal ou «volume» de água, que corre em cada aqueduto, ainda mesmo que esse «volume» totalmente se destine à irrigação de um só lugar. Há levadas de um caudal pouco abundante, que apenas aproveitam a certas culturas, e há outras de mais volumoso caudal, que indistintamente podem servir para todas as regas.

Mainel da Levada - São «mainéis» as paredes da levada e particularmente a parte que sobressai ao solo adjacente.

Lanço - Quando um caudal se reparte, afim de proceder-se à irrigação em diversos pontos aplica-se a cada uma dessas divisões a designação de «lanço» ou «ramal», sendo este, por vezes, susceptível de subdivisões.

Adufas - Conservam este nome as pequenas «comportas», que se fazem nos mainéis ou paredes dos aquedutos e destinadas a dar vasão às águas nos pontos em que se procede a irrigação.

Giro - Em sentido mais lato, entende-se por «giro» o período inteiro da irrigação que normalmente se estende do mês de Abril ou Maio aos fins de Setembro. Em sentido mais restrito, chama-se «giro» ao tempo decorrido entre a rega de um terreno e a sua rega subsequente, lapso este de dias, que geralmente não se altera para cada levada. É porém, variável de uma para outra levada, mediando cada «giro» entre quinze e trinta dias. Há casos em que o «giro» se divide, havendo «giro pequeno» e «giro grande».

Heréus – É o proprietário de qualquer porção de água em uma levada, mas originariamente era o agricultor ou colono que cultivava terras regadias.

Esplanada - É a estreita vereda que em geral acompanha contígua e paralelamente a levada em quase toda a sua extensão. É geralmente aproveitada como servidão e caminho para os moradores das vizinhanças.

Sacadas - Dá-se vulgarmente este nome às «paredes» de pedras e torrões de argila atravessadas nas correntes, fazendo desviar furtivamente as águas para as terras marginais das mesmas correntes, antes de entrarem nos aquedutos, diminuindo deste modo o caudal das levadas.

Caixa Divisória - Há aquedutos que conduzem um caudal abundante, destinado a ser dividido em dois, três e quatro «lanços» ou aquedutos secundários para a irrigação em diversos pontos, realizando-se a sua rigorosa repartição em local apropriado para esse fim, que tem o nome de «Caixa Divisória».

Terral - Era conhecido este termo, e em alguns lugares ainda o é, para designar a contribuição a satisfazer por cada «heréu» e destinada às despesas havidas na conservação das levadas e pagamento do pessoal nelas empregado. O arrendatário da água, que não era «heréu» não pagava «terral», mas contribuía com uma módica importância para o mesmo fim a que se chamava «a vigia».

Furados - Aos pequenos túneis ou estreitos caminhos subterrâneos destinados a passagem dos aquedutos, dá-se na Madeira o nome de «Furados».

Juiz da Levada - O Estado considerou-se durante séculos o único proprietário das águas destinadas ao uso comum dos cultivadores das terras, estando a cargo dos donatários, dos governadores gerais e dos governadores e capitães-generais a direcção de todos os serviços respeitantes às mesmas águas, que para isso nomeavam um «Juiz», geralmente escolhido entre pessoas qualificadas do nosso meio social. Os «heréus» foram-se a pouco e pouco libertando dessa tutela e adquirindo a propriedade das águas, passando á nomeação de comissões administrativas. Desnecessário será dizer que este regime respeita somente às levadas particulares, pois as do Estado, que contam pouco mais de um século de existência, são administradas pelas respectivas repartições de obras públicas.

No serviço das regas é muito usual o emprego destes termos:
Tornadouro - para designar o local em que a linha de água entra nos terrenos a irrigar ou nos «regos» cultivados.

Levadeiros - chamam-se os homens encarregados da distribuição da água, para efeito das regas, nas diversas propriedades.

Minadoiros - são as pequenas nascentes de água que afloram à superfície do solo.

Vigias - Durante o período da irrigação, vários indivíduos percorrem permanentemente as margens das levadas, a fim de manter-se a livre passagem do caudal, desobstruindo o aqueduto de qualquer obstáculo.